20 setembro 2005

Repensando a Educação através da prática - Uma sugestão

Quando criei este blog pensei sobretudo em uma forma de repensarmos a prática cotidiana nas escolas a partir de elementos simples, de origem do próprio cotidiano.

Lembrei-me então de um grande educador, que pouco deixou escrito em termos teóricos mas que muito fez na prática. É São João Bosco (1815 - 1888).

De forma bem simples, enfrentando os riscos do cotidiano, Padre Bosco (Dom Bosco, em italiano), soube acolher os jovens desprotegidos de Turim (cidade ao norte da Itália) no século 19.

Deu uma nova visão da educação, naquela época sempre ligada à Igreja Católica (hoje a não sei o quê...), cujo princípio continua atualíssimo até hoje: religiosidade - razão - amor.

Ele sempre soube acolher os jovens, brincar com eles e dar-lhe instrução, quer religiosa, quer elementar. Soube valorizar os momentos com eles, especialmente o recreio.

Para que saibamos trabalhar com nossos alunos é fundamental, independente da religião professada ou não, conhecer um pouco de Dom Bosco e do que ele fez pessoalmente pelos jovens daquela época.

Neste blog já coloquei alguns textos de autoria de Dom Bosco; vale conferir:
– "Sempre trabalhei com Amor"
O Sistema Preventivo na Educação dos Jovens

Carta de Roma

Alguns pensamentos fundamentais de Dom Bosco, presentes nesses textos acima:

"Tenhamos presente que se a força pune o vício, não cura o vicioso. Assim como não se cultiva uma planta tratando-a com aspereza e violência, assim não é possível educar a vontade sobrecarregando-a com um jugo pesado demais".

"O Educador entre os alunos procure fazer-se amar se quer fazer-se respeitar".

"A familiaridade gera o afeto e o afeto produz confiança. Isso é que abre os corações".

" Se queremos saber mandar, temos primeiro saber obedecer, procurando impor mais com o amor do que com o temor".

"Cheios de paciência e de caridade, aguardemos, em nome de Deus, o momento oportuno para corrigir os alunos". "Não castigue ninguém no próprio instante em que se cometeu a falta".

"Que sua língua não fale uma só palavra enquanto tiver o coração agitado".

"Em determinados momentos muito graves, vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante ele, do que uma tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não e não tem proveito algum para quem as merece".

"Pensem sempre naquilo que Deus pode dizer de vocês, não naquilo que de vocês, bem ou mal, podem dizer os homens".

Sugestões de leituras, para aprofundamento:

– "A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos", Editora Salesiana, São Paulo, 2004.
– "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales", São João Bosco, Editora Salesiana, São Paulo, 3ª edição, 2005.
– "Dom Bosco - Uma biografia nova", Terésio Bosco, Editora Salesiana, São Paulo, 6ª edição, 2002.

Sugestões de sites:
– Editora Salesiana: www.editorasalesiana.com.br
– Inspetoria Salesiana: www.salesianos.com.br
– Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora: www.nsauxiliadora.org.br
Outros sites poderão ser acessados a partir dos listados acima.

Então, seja bem vindo a este blog. Que Deus, por intermédio de São João Bosco, nos ilumine em nossa caminhada de profissão. Assim seja.

Sites e livros sobre Dom Bosco, clique aqui.


O Sistema Preventivo na Educação dos Jovens


A seguir, outro texto de autoria de São João Bosco (1815-1888) que pode inspirar nossas práticas educativas.

Meu objetivo em divulgar esses texto é de contribuir para com uma inovação na prática educativa a partir de coisa bem simples.


Aqui, Dom Bosco trata a respeito do Sistema Preventivo e também sobre os castigos, desaconselhando a prática destes.

Para maiores detalhes:
– "A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos", Editora Salesiana, São Paulo, 2004.
– "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales", São João Bosco, Editora Salesiana, 3ª ed., 2005.

Mas atenção: O texto aqui posto é apenas um aperitivo, para uso bem pessoal. Para maiores detalhes recorra-se às obras listadas acima, ou no site da Editora: www.editorasalesiana.com.br

Mas agora vamos ao texto (sem revisão, do jeito que estava no site citado no final)
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Fui instado várias vezes a expressar, verbalmente ou por escrito, o meu pensamento sobre o chamado Sistema Preventivo, que se costuma praticar em nossas casas. Por falta de tempo, não pude ainda satisfazer esse desejo. Querendo agora imprimir o Regulamento, que até hoje tem sido usado sempre tradicionalmente entre nós, julgo oportuno expor aqui um rápido esboço. Isso será como o índice de um opúsculo que estou elaborando, se Deus me der vida para levá-lo a termo. Move-me a isso apenas a vontade de colaborar na difícil arte da educação juvenil. Direi, portanto, em que consiste o Sistema Preventivo, e por que se deve preferir; sua aplicação prática e vantagens.


1. Em que consiste o Sistema Preventivo e por que se deve preferir

São dois os sistemas até hoje usados na educação da juventude: o Preventivo e o Repressivo. O Sistema Repressivo consiste em fazer que os súbditos conheçam a lei, e depois vigiar para saber os seus transgressores e infligir-lhes, quando necessário, o merecido castigo. Nesse sistema, as palavras e o semblante do superior devem constantemente ser severos e até ameaçadores, e ele próprio deve evitar toda a familiaridade com os dependentes. O diretor, para dar mais prestígio à sua autoridade, raro deverá achar-se entre os dependentes e quase unicamente quando se trata de ameaçar ou punir. Esse sistema é fácil, menos trabalhoso. Serve especialmente para soldados e, em geral, para pessoas adultas e sensatas, que devem, por si mesmas, estar em condições de saber e lembrar o que é conforme às leis e outras prescrições.

Diferente e, eu diria, oposto é o Sistema Preventivo. Consiste em tornar conhecidas as prescrições e as regras de uma instituição, e depois vigiar de modo que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do diretor ou dos assistentes. Estes, como pais carinhosos, falem, sirvam de gula em todas as circunstâncias, dêem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois, em colocar os alunos na impossibilidade de cometerem faltas.

O sistema apóia-se todo inteiro na razão, na religião e na bondade. Exclui, por isso, todo o castigo violento, e procura evitar até as punições leves. Parece preferível pelas seguintes razões:

1. O aluno, previamente avisado, não fica abatido pelas faltas cometidas, como sucede quando são levadas ao conhecimento do superior. Não se irrita pela correção feita nem pelo castigo ameaçado, ou mesmo infligido, pois a punição contém em si um aviso amigável e preventivo que o leva a refletir e, as mais das vezes, consegue granjear-lhe o coração. Assim o aluno reconhece a necessidade do castigo e quase o deseja.

2. A razão mais essencial é a volubilidade do menino, que num instante esquece as regras disciplinares e o castigo que ameaçam. Por isso é que, amiúde, se torna um menino culpado e merecedor de uma pena em que nunca pensou, e de que absolutamente não se lembrava no momento da falta cometida, e que teria por certo evitado, se uma voz amiga o tivesse advertido.

3. O Sistema Repressivo pode impedir uma desordem, mas dificilmente melhorará os culpados. Diz a experiência que os jovens não esquecem os castigos recebidos, e geralmente conservam ressentimento acompanhado do desejo de sacudir o jugo e até de tirar vingança. Podem, às vezes, parecer indiferentes; mas quem lhes segue os passos sabe quão terríveis são as reminiscências da juventude. Esquecem facilmente os castigos que recebem dos pais; muito dificilmente, porém, os dos educadores. Há casos de alguns que na velhice se vingaram com brutalidade de castigos justos que receberam nos anos de sua educação. O Sistema Preventivo, pelo contrário, granjeia a amizade do menino, que vê no assistente um benfeitor que o adverte, quer fazê-lo bom, livrá-lo de dissabores, castigos e desonra.

4. O Sistema Preventivo predispõe e persuade de tal maneira o aluno, que o educador poderá em qualquer lance falar-lhe com a linguagem do coração, quer no tempo da educação, quer ao depois. Conquistado o ânimo do discípulo, poderá o educador exercer sobre ele grande influência, avisá-lo, aconselhá-lo, e também corrigi-lo, mesmo quando já colocado em qualquer trabalho ou empregos públicos, ou no comércio. Por essas e muitas outras razões, parece que o Sistema Preventivo deve preferir-se ao Repressivo.

2. Aplicação do Sistema Preventivo

A prática desse sistema baseia-se toda nas palavras de S. Paulo: “Charitas benigna est, patiens est; omnia suffert, omnia sperat, omnia sustinet”. A caridade é benigna e paciente; tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incômodo. Por isso, somente o cristão pode aplicar com êxito o Sistema Preventivo. Razão e Religião são os instrumentos de que o educador se deve servir; deve inculcá-los, praticá-los ele mesmo, se quiser ser obedecido e alcançar os resultados que deseja.

1. Deve, pois, o diretor consagrar-se totalmente aos seus educandos: jamais assuma compromissos que o afastem das suas funções, Pelo contrário, permaneça sempre com seus alunos, todas as vezes que não estiverem regularmente ocupados, salvo estejam por outros devidamente assistidos.

2. A moralidade dos professores, mestres de oficina, assistentes, deve ser notória. Esforcem-se eles por evitar, como epidemia, toda a sorte de afeições ou amizades sensíveis com os alunos, e lembrem-se de que o descaminho de um só pode comprometer um instituto educativo. Veja-se que os alunos não fiquem jamais sozinhos. Porquanto possível, os assistentes sejam os primeiros em achar-se no lugar onde os alunos se devem reunir; entretenham-se com eles enquanto não vier um substituto; nunca os deixem desocupados.

3. Dê-se ampla liberdade de correr, pular e gritar, à vontade. Os exercícios ginásticos e desportivos, a música, a declamação, o teatro, os passeios, são meios eficacíssimos para se alcançar a disciplina, favorecer a moralidade e conservar a saúde. Mas haja cuidado em que a matéria das diversões, as pessoas que tomam parte, as falas, não sejam repreensíveis. “Fazei quanto quiserdes”, dizia o grande amigo da juventude, S. Filipe Néri, “a mim me basta não cometais pecados”.

4. A confissão freqüente, a comunhão freqüente e a missa cotidiana são as colunas que devem sustentar um edifício educativo, do qual se queira eliminar a ameaça e a vara. Nunca se obriguem os jovens a freqüentar os santos sacramentos: basta encorajá-los e dar-lhes comodidade de se aproveitarem deles. Nos exercícios espirituais, tríduos, novenas, pregações, catecismos, ponha-se em relevo a beleza, a sublimidade, a santidade da Religião, que oferece meios tão fáceis, tão úteis à sociedade civil, à paz do coração, à salvação da alma, como são precisamente os santos sacramentos. Dessa maneira, estimulam-se os meninos a querer, espontaneamente, essas práticas de piedade; haverão de cumpri-las de boa vontade, com prazer e fruto.

5. Use-se a máxima vigilância para impedir que entrem no instituto companheiros, livros ou pessoas que tenham más conversas. A escolha de um bom porteiro é um tesouro para uma casa de educação.

6. Todas as noites, após as orações de costume e antes que os alunos se recolham, o diretor, ou quem por ele, dirija em público algumas afetuosas palavras, dando algum aviso ou conselho sobre o que convém fazer ou evitar. Tire-se a lição moral de acontecimentos do dia, sucedidos em casa ou fora; mas a sua alocução não deve passar de dois ou três minutos. Essa é a chave da moralidade, do bom andamento e do bom êxito da educação.

7. Afaste-se como a peste a opinião dos que pretendem diferir a primeira comunhão para uma idade demasiado adiantada, quando em geral o demônio já se apossou do coração dos meninos, com incalculável dano da sua inocência. Conforme a disciplina da Igreja primitiva, costumava dar-se às crianças as hóstias consagradas que sobravam da comunhão pascal. Isso demonstra quanto preza a Igreja sejam os meninos admitidos mais cedo à santa comunhão. Quando uma criança pode distinguir entre Pão e pão, e revela instrução suficiente, já não se olhe para a idade, e venha o Soberano Celeste reinar nessa alma abençoada.

8. Os catecismos recomendam a comunhão freqüente: S. Filipe Néri aconselhava-a cada oito dias e ainda mais amiúde. O Concílio Tridentino diz claro que deseja sumamente que todos os fiéis, quando ouvem a santa missa, façam também a comunhão. Porém seja a comunhão não só espiritual, mas ainda sacramental, a fim de que se tire maior fruto desse augusto e divino sacrifício (Concílio Tridentino, Sess. XXII, capítulo VI).

3. Utilidade do Sistema Preventivo

Dir-se-á que esse sistema é difícil na prática. Observo que da parte dos alunos torna-se bastante mais fácil, agradável e vantajoso. Para o educador, encerra alguma dificuldade que, porém, diminuirá se ele se entregar com zelo à sua missão. O educador é um indivíduo consagrado ao bem de seus alunos: por isso, deve estar pronto a enfrentar qualquer incômodo e canseira, para conseguir o fim que tem em vista: a formação cívica, moral e científica dos seus alunos.

Além das vantagens acima expostas, acrescenta-se ainda o seguinte:

1. O aluno conservará sempre grande respeito para com o educador e lembrará com gosto a educação recebida e considerará ainda os seus mestres e demais superiores como pais e irmãos. Esses alunos, nos lugares para onde forem, serão, as mais das vezes, o consolo da família, cidadãos prestimosos e bons cristãos.

2. Qualquer que seja o caráter, a índole, o estado moral do aluno ao ser admitido, podem os pais viver seguros de que seu filho não vai piorar, e considera-se como certo que se alcançará sempre alguma melhora. Antes, meninos houve que depois de terem sido por muito tempo o flagelo dos pais, e, até, rejeitados pelas casas de correção, educados segundo esses princípios, mudaram de índole e caráter, deram-se a uma vida morigerada, e presentemente ocupam posição distinta na sociedade, tornando-se, desse modo, o amparo da família e honra do lugar em que moram.

3. Os alunos que por acaso entrassem num instituto com maus hábitos, não podem prejudicar os seus companheiros. Nem os meninos bons poderão ser por eles contaminados, porque não haveria tempo, nem lugar, nem ocasião, pois o assistente, que supomos presente, logo lhes acudiria.

4. Uma palavra sobre os castigos

Que norma seguir para dar castigos? — Por quanto possível, jamais se faça uso de castigos. Quando, porém, a necessidade o exige, observe-se quanto segue:

1. O educador entre os alunos procure fazer-se amar se quer fazer-se respeitar. Nesse caso, a subtração da benevolência é um castigo que desperta emulação, infunde coragem sem deprimir.

2. Entre os meninos é castigo o que se faz passar por castigo. Observou-se que um olhar não amável produz para alguns maior efeito que uma bofetada. O elogio quando uma ação é bem feita. a repreensão quando há desleixo, é já um prêmio ou castigo.

3. Salvo raríssimos casos, as correções, os castigos, nunca se dêem em público, mas em particular, longe dos companheiros, e empregue-se a máxima prudência e paciência para que o aluno compreenda a sua falta, à luz da razão e da religião.

4. Bater, de qualquer modo que seja, pôr de joelhos em posição dolorosa, puxar orelhas, e outros castigos semelhantes, devem-se absolutamente banir, porque são proibidos pelas leis civis, irritam sobremaneira os jovens e desmoralizam o educador.

5. Torne o diretor bem conhecidas as regras, os prêmios e os castigos sancionados pelas leis disciplinares, a fim de que o aluno não possa desculpar-se dizendo: “Eu não sabia que isso era mandado ou proibido”.

Se em nossas casas se puser em prática este sistema, creio poderemos alcançar grande resultado, sem recorrermos a pancadarias, nem a outros castigos violentos. Há quarenta anos, mais ou menos, que trato com a juventude, não me lembra ter usado castigo de espécie alguma. Com o auxílio de Deus, não só obtive sempre o que era de dever, mas ainda o que eu simplesmente desejava, e isso daqueles mesmos meninos dos quais se havia perdido a esperança de bom resultado.

P. Gio. Bosco.

© Direzione Generale Opere Don Bosco, via della Pisana, 1111 - 00163 Roma, Italia

Fonte:
http://www.sdb.org/PR/Documenti/2004/_5_10_6_4_1_.htm
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No Brasil:
"A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos", Editora Salesiana, 2004, São Paulo,
pág. 8 - 13 e 23 - 32. www.editorasalesiana.com.br

Carta de Dom Bosco sobre o Oratório (Carta de Roma)


A seguir, outro texto de autoria de São João Bosco (1815-1888) que pode inspirar nossas práticas educativas.

Meu objetivo em divulgar esses texto é de contribuir para com uma inovação na prática educativa a partir de coisa bem simples.


Aqui, Dom Bosco narra um sonho no qual é mostrado que se precisa rever a prática educativa, precisa-se aproximar dos jovens e fazer com que estes saibam que são amados. Dom Bosco insite novamente na questão do acolhimento no recreio, tornado-o educativo e prazeroso. Trata-se de um verdadeiro testamento espiritual e educativo.


Para maiores detalhes:
– "A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos", Editora Salesiana, São Paulo, 2004.
– "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales", São João Bosco, Editora Salesiana, 3ª ed., 2005.

Mas atenção: O texto aqui posto é apenas um aperitivo, para uso bem pessoal. Para maiores detalhes recorra-se às obras listadas acima, ou no site da Editora: www.editorasalesiana.com.br

Mas agora vamos ao texto (sem revisão, do jeito que estava no site citado no final)
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Perto ou longe, eu penso sempre em vós. Meu único desejo é ver-vos felizes no tempo e na eternidade. Esse pensamento e esse desejo é que me levaram a escrever-vos esta carta. Sinto, meus caros, o peso do afastamento, e o fato de não vos ver nem ouvir me aflige como não podeis imaginar. Desejaria por isso escrever-vos estas linhas há uma semana, mas as contínuas ocupações me impediram. Todavia, embora faltem poucos dias para minha volta, quero antecipar minha chegada ao menos por carta, já que não posso fazê-lo pessoalmente. São palavras de quem vos ama carinhosamente em Jesus Cristo e tem obrigação de falar-vos com a liberdade de um pai. Haveis de permiti-lo, não é verdade? E me prestareis atenção e poreis em prática o que vou dizer-vos.

Afirmei que sois o único e contínuo pensamento de minha mente. Ora, numa das noites passadas, havia-me recolhido ao quarto, e, enquanto me dispunha a repousar, tinha começado a rezar as orações que minha boa mãe me ensinou. Nesse momento, não sei bem se dominado pelo sono ou fora de mim por uma distração, pareceu-me ver dois dos antigos jovens do Oratório virem ao meu encontro.

Um deles aproximou-se e saudando-me afetuosamente me disse:

— Dom Bosco, não me conhece?

— Se te conheço, respondi.

— E lembra-se ainda de mim? — acrescentou o homem.

— De ti e de todos os outros. És Valfrè e estavas no Oratório antes de 1870.

— Diga — continuou Valfrè —, quer ver os jovens que estavam no Oratório no meu tempo?

— Sih, mostra-me — respondi —, isso vai dar-me grande prazer.

Então Valfrè mostrou-me todos os jovens com o mesmo semblante, estatura e idade daquele tempo. Parecia-me estar no antigo Oratório na hora do recreio. Era uma cena cheia de vida, movimento, alegria. Quem corria, quem pulava, quem fazia pular. Aqui brincava-se de rã, de barra, ou com bola. Num lugar uma roda de jovens pendia dos lábios de um padre, que lhes contava uma história. Noutro, um clérigo no meio de outros meninos brincava de burro voa e de jerônimo. Cantava-se, ria-se por todos os cantos e em toda parte encontravam-se padres e clérigos, e ao redor deles jovens brincando e gritando alegremente. Via-se que entre jovens e superiores reinava a maior cordialidade e confiança. Eu estava encantado com o espetáculo. Valfrè me disse então:

— Veja, a familiaridade gera o afeto e o afeto produz confiança. Isto é que abre os corações, e os jovens manifestam tudo sem temor aos mestres, assistentes e superiores, Tornam-se sinceros na confissão e fora da confissão e se prestam docilmente a tudo o que porventura lhes mandar aquele de quem têm certeza de serem amados.

Nesse instante aproximou-se de mim o outro ex-aluno, de barba toda branca, e me disse:

— Dom Bosco, quer conhecer e ver agora os jovens que atualmente estão no Oratório? (Era José Buzzetti).

— Sim, respondi; porque há já um mês que não os vejo!

E apontou-os para mim: vi o Oratório e todos vós no recreio. Mas já não ouvia gritos de alegria e cantos, não via o movimento e a vida da cena anterior.

Nos modos e nos rostos de muitos jovens lia-se enfado, cansaço, mau humor, desconfiança que me fazia sofrer o coração. Vi, é verdade, muitos a correr, brincar, agitar-se, com feliz despreocupação, mas muitos outros estavam sós, encostados às colunas, dominados por pensamentos desalentadores; encontravam-se outros pelas escadas e nos corredores ou na sacada perto do jardim para evitar o recreio comum; outros passeavam lentamente em grupos falando em voz baixa, lançando ao derredor olhares desconfiados e maliciosos. Sorriam de vez em quando, mas com um sorriso acompanhado de olhares que faziam suspeitar e até mesmo acreditar que S. Luis haveria de corar se andasse em tal companhia; mesmo entre os que brincavam alguns havia tão enfarados, que mostravam claramente não achar nenhum gosto nos divertimentos.

— Viu seus jovens? — perguntou-me o ex-aluno.

— Vejo-os —, respondi suspirando.

— Como são diferentes do que éramos nós em nosso tempo! — exclamou o ex-aluno.

— É Pena! Quanta falta de vontade nesse recreio!

— De aí é que vem a frieza de tantos meninos na freqüência dos santos Sacramentos, o desleixo das práticas de piedade na igreja e fora; o estar de má vontade num lugar onde a Divina Providência os cumula,de todo bem para o corpo, para a alma, para a inteligência. De aí não corresponderem muitos à sua vocação; de aí a ingratidão para com os superiores; de aí os segredinhos e as murmurações, com todas as demais deploráveis conseqüências.

— Compreendo, entendo — respondi —. Mas como reanimar estes meus caros jovens, para que retomem a antiga vivacidade, alegria, expansão?

— Com o amor!

— Com o amor? Mas os meus jovens não são bastante amados? Sabes quanto os amo. Sabes quanto por eles sofri e tolerei no decorrer de bem quarenta anos, e quanto suporto e sofro mesmo agora. Quantas privações, quantas humilhações, quantas oposições, quantas perseguições para dar-lhes pão, casa, professores e especialmente para garantir-lhes a salvação da alma. Fiz tudo quanto soube e pude por eles, que são o amor de toda a minha vida.

— Não falo do senhor!

— De quem então? Dos que me fazem as vezes? Dos diretores, prefeitos, professores, assistentes? Não vês como são mártires do estudo e do trabalho? Como consomem sua juventude por aqueles que a Divina Providência lhes confiou?

— Vejo, sei perfeitamente; mas isso não basta. Falta o melhor.

— Que é que falta, então?

— Que os jovens não somente sejam amados, mas que eles próprios saibam que são amados.

— Mas, afinal, não têm olhos? Não têm a luz da inteligência? Não vêem que tudo o que por eles se faz é por amor deles?

— Não, repito, isso não basta.

— Que é preciso, então?

— Que sendo amados nas coisas que lhes agradam, com participar em suas inclinações infantis, aprendam a ver o amor nas coisas que naturalmente pouco lhes agradam, como a disciplina, o estudo, a mortificação de si mesmos; e aprendam a fazer essas coisas com entusiasmo e amor.

— Explica-te melhor.

— Observe os jovens no recreio.

Observei e respondi: — E que há de especial para ver?

— Há já tantos anos que vive a educar os jovens e não entende? Olhe melhor! Onde estão os nossos salesianos?

Observei e vi que bem poucos padres e clérigos se misturavam com os jovens e bem menos ainda eram os que tomavam parte em seus divertimentos. Os superiores já não eram a alma do recreio. A maior parte deles passeava conversando entre si, sem ligar ao que faziam os alunos; outros olhavam o recreio sem se preocuparem absolutamente com os jovens; outros vigiavam, mas tão de longe que não poderiam perceber se os jovens cometiam alguma falta; um ou outro avisava mas em atitude ameaçadora e bem de raro. Ainda havia um ou outro salesiano que gostaria de intrometer-se no meio dos jovens; vi, porém, que estes procuravam propositalmente afastar-se dos professores e superiores.

Então meu amigo continuou: — Nos velhos tempos do Oratório o senhor não estava sempre no meio dos jovens, especialmente na hora do recreio? Lembra aqueles belos anos? Era um santo alvoroço, um tempo que lembramos sempre com saudade, porque o afeto é que nos servia de regra, e nós não tínhamos segredos para o senhor.

— Certamente. Tudo então era alegria para mim. Os jovens corriam ao meu encontro, para falar-me; ansiavam por ouvir meus conselhos e pô-los em prática. Vês, porém, que agora as contínuas audiências, os muitos afazeres e minha saúde não o permitem.

— Está bem: mas se o senhor não pode, por que seus salesianos não o imitam? Por que não insiste, não exige que tratem os jovens como o senhor os tratava?

— Eu falo, canso-me de falar, entretanto muitos não se sentem dispostos a enfrentar os trabalhos como outrora.

— E então descuidando o menos, perdem o mais, e esse “mais” são seus trabalhos. Amem o que agrada aos jovens e os jovens amarão o que aos superiores agrada. E assim ser-lhes-á fácil o trabalho. A causa da mudança atual no Oratório é que bom número de jovens não tem confiança nos superiores. Antigamente os corações estavam todos abertos aos superiores, a quem os jovens amavam e obedeciam prontamente. Mas agora os superiores são considerados como superiores e não como pais, irmãos e amigos; são pois temidos e pouco amados. Por isso, se se quiser formar um só coração e uma só alma, é preciso que por amor de Jesus se rompa a barreira fatal da desconfiança e se lhe substitua uma confiança cordial. Guie pois a obediência o aluno como a mãe guia o filhinho; reinará então no Oratório a paz e a antiga alegria.

— Como fazer então para romper a barreira?

— Familiaridade com os jovens especialmente no recreio. Sem familiaridade não se demonstra afeto e sem essa demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. Jesus Cristo fez-se pequeno com os pequenos e carregou as nossas fraquezas. Aí está o mestre da familiaridade! O professor visto apenas na cátedra é professor e nada mais, mas se está no recreio com os jovens torna-se irmão.

Se alguém é visto somente a pregar do púlpito, dir-se-á que está fazendo apenas o próprio dever; mas se diz uma palavra no recreio, é palavra de alguém que ama. Quantas conversões não provocaram algumas palavras suas ditas ocasionalmente aos ouvidos de um jovem enquanto brincava!
Quem sabe que é amado, ama; e quem é amado alcança tudo, especialmente dos jovens. A confiança estabelece uma corrente elétrica entre jovens e superiores. Os corações se abrem e dão a conhecer suas necessidades e manifestam seus defeitos. Esse amor faz os superiores suportarem canseiras, aborrecimentos, ingratidões, desordens, faltas e negligências dos meninos. Jesus Cristo não quebrou a cana já partida, nem apagou a mecha que fumega. Eis vosso modelo. Então não se verá ninguém mais trabalhar apenas por vanglória; punir somente para satisfazer o amor próprio ofendido, retirar-se do campo da vigilância tão-somente por ciúme de temida preponderância alheia; murmurar dos outros querendo ser amado e estimado pelos jovens, com exclusão de todos os demais superiores, ganhando nada mais que desprezo e falsas manifestações de carinho; deixar-se roubar o coração por uma criatura e, para fazer-lhe corte, descuidar todos os outros meninos; por amor da própria comodidade julgar de somenos importância o dever importantíssimo da vigilância; por vão respeito humano deixar de advertir quem deve ser advertido. Se houver esse verdadeiro amor, não se haverá de procurar senão a glória de Deus e a salvação das almas. Se vier a definhar, então é que as coisas já não vão bem. Por que se quer substituir à caridade a frieza de um regulamento? Por que se afastam os superiores da maneira de educar que Dom Bosco ensinou? Por que ao sistema de prevenir com a vigilância e amorosamente as desordens, se vai substituindo pouco a pouco o sistema, menos pesado e mais cômodo para quem manda, de impor leis que se mantêm com castigos, acendem ódios e geram desgostos, e se não se cuida de as fazer observar, geram desprezo aos superiores e causam gravíssimas desordens?
É o que acontece necessariamente se faltar a familiaridade. Se se quiser, pois, que o Oratório volte à antiga felicidade, reponha-se em vigor o antigo sistema: O superior seja tudo para todos, sempre disposto a ouvir qualquer dúvida ou queixa dos jovens, todo olhos para vigiar-lhes paternamente a conduta, todo coração para procurar o bem espiritual e temporal dos que a Providência lhe confiou.
Então, já não haverá corações fechados e não se alastrarão mais certos segredinhos que acabam matando. Somente em caso de imoralidade os superiores sejam inexoráveis. É melhor correr perigo de expulsar de casa um inocente, que conservar um escandaloso. Os assistentes considerem gravíssimo dever de consciência relatar aos superiores tudo o que souberem ser de algum modo ofensa de Deus.
Então indaguei:
— Qual é o meio mais indicado para que reine essa familiaridade, esse amor e confiança?
— A observância exata das regras da casa.
— E nada mais?
— O melhor prato de um jantar é o bom humor.
Enquanto meu antigo aluno acabava de falar e eu continuava a observar com vivo desprazer o recreio, pouco a pouco senti-me abatido por grande canseira, que ia crescendo cada vez mais. E chegou a tal ponto que não podendo mais resistir, estremeci e acordei.
Encontrei-me de pé junto à cama. As pernas estavam tão inchadas e me doíam tanto que não podia ficar de pé. A hora já ia muito adiantada, de modo que me deitei resolvido a escrever estas linhas a meus filhos.
Desejo não ter sonhos assim, por que me cansam demais. No dia seguinte sentia-me todo moído e não via a hora de descansar na próxima noite. Eis, porém, que, apenas me deitei, o sonho recomeçou. Reaparece o pátio, os jovens que atualmente estão no Oratório, e o mesmo aluno do Oratório. Comecei a interrogá-lo:
— Comunicarei aos salesianos o que me disseste; mas que devo dizer aos jovens do Oratório?
Respondeu-me:
— Que reconheçam quanto superiores, mestres e assistentes trabalham e estudam por amor deles, pois se não fosse pelo bem deles não se haviam de sujeitar a tantos sacrifícios; que se lembrem ser a humildade a fonte de toda tranqüilidade; que saibam suportar os defeitos dos outros, porque a perfeição não é deste mundo, mas somente do paraíso; que deixem de murmurar, porque as murmurações esfriam os corações; e sobretudo que procurem viver na santa graça de Deus. Quem não tem paz com Deus, não tem paz nem consigo nem com os outros.
— Queres dizer então que há entre meus jovens alguns que não estão em paz com Deus?
— Entre as causas do mal-estar que Dom Bosco conhece, e não vou recordar agora, e às quais deve pôr remédio, esta é a principal. Com efeito, não desconfia senão quem tem segredos a guardar, senão quem teme que tais segredos venham a ser conhecidos, porque sabe que isso lhes traria vergonha e desgraça. Ao mesmo tempo se o coração não está em paz com Deus, fica angustiado, irrequieto, rebelde à obediência, irrita-se por um nonada, parece-lhe que tudo vai mal, e por não ter amor, julga que os superiores não o amam.
— Entretanto, meu caro, não vês quanta freqüência de confissões e comunhões há no Oratório?
— É verdade que é grande a freqüência das confissões, mas o que falta radicalmente em muitos meninos que se confessam é a firmeza nos propósitos. Confessam-se, mas sempre das mesmas faltas, das mesmas ocasiões próximas, dos mesmos maus hábitos, das mesmas desobediências, das mesmas transgressões dos deveres. E vai-se assim para a frente meses e meses, e também por vários anos, e alguns chegam assim até o fim do curso secundário. São confissões que pouco ou nada valem; conseqüentemente não trazem a paz. Se o menino fosse chamado nesse estado ao tribunal de Deus, que desgraça não seria.
— E há muitos assim no Oratório?
— Poucos em comparação com o grande número de jovens que se encontram na casa. Veja. E apontava.
Olhei e vi os tais jovens um por um. Nesses poucos, porém, vi coisas que me amarguraram profundamente o coração. Não quero pô-las no papel, mas quando voltar quero contar a cada um dos interessados. Aqui apenas vos direi que é tempo de rezar e de tomar firmes resoluções: tomar propósitos não com palavras, mas com fatos, e demonstrar que os Comolos, os Domingos Sávios, os Besuccos e os Saccardis ainda vivem entre nós.
Perguntei por fim ao meu amigo: — Não tens mais nada a dizer-me?
— Pregue a todos, grandes e pequenos, que se lembrem sempre de Maria SS. Auxiliadora. Que ela os reuniu aqui para tirá-los dos perigos do mundo, para que se amassem como irmãos, e para que dessem glória a Deus e a ela, com o bom procedimento; que é Nossa Senhora que lhes providencia pão e meios para estudar mediante graças e portentos. Lembrem-se de que estão na vigília da festa de sua Mãe S., e com sua ajuda deve cair a barreira da desconfiança que o demônio soube erguer entre jovens e superiores, e da qual se aproveita para ruína de certas almas.
— E conseguiremos destruir essa barreira?
— Sim, certamente, contanto que grandes e pequenos estejam dispostos a sofrer alguma pequena mortificação por amor de Maria e ponham em prática o que eu disse.
Entremente, eu continuava a olhar meus jovenzinhos, ante o espetáculo dos que via encaminhar-se para a eterna perdição senti tamanho aperto no coração que acordei. Muitas coisas importantíssimas que eu vi gostaria de contar-vos, mas o tempo e as conveniências não permitem.
Vou concluir. Sabeis o que deseja de vós este pobre velho, que gastou toda a vida por seus caros jovens? Nada mais do que, feitas as devidas proporções, retornem os dias felizes do Oratório primitivo. Os dias do afeto e da confiança cristã entre jovens e superiores; os dias do espírito de condescendência e tolerância por amor de Jesus Cristo de uns para com outros; os dias dos corações abertos com toda a simplicidade e candura; os dias da caridade e da verdadeira alegria para todos. Tenho necessidade de que me consoleis, dando-me a esperança e a promessa de que fareis tudo o que desejo para o bem de vossas almas. Não conheceis suficientemente que felicidade é a vossa de haverdes sido recebidos no Oratório. Diante de Deus declaro: Basta que um jovem entre numa casa salesiana, para que a Virgem SS. o tome imediatamente debaixo de sua especial proteção, Ponhamo-nos, pois, todos de acordo. A caridade dos que mandam, a caridade dos que devem obedecer faça reinar entre nós o espírito de S. Francisco de Sales. Ó meus caros filhinhos, aproxima-se o tempo em que me deverei separar de vós e partir para a minha eternidade. (Nota do secretário: Neste ponto Dom Bosco suspendeu o ditado; os olhos se lhe encheram de lágrimas, não por desgosto, mas por inefável ternura que ressumava de seu olhar e do tom de sua voz; depois de alguns instantes continuou). Desejo, portanto, deixar-vos a todos, padres, clérigos, jovens caríssimos, no caminho do Senhor, em que Ele próprio vos deseja.

Para tal fim, o Santo Padre, que vi sexta-feira, 9 de maio, vos manda de todo o coração sua bênção.
No dia da festa de Nossa Senhora Auxiliadora estarei convosco ante a imagem de nossa amorosíssima Mãe. Quero que essa grande festa se celebre com toda a solenidade, e o Pe. Lazzero e o Pe. Marchisio providenciem para que estejamos todos alegres também no refeitório. A festa de Maria Auxiliadora deve ser o prelúdio da festa eterna que deveremos celebrar um dia, todos juntos, no paraíso.
Vosso af.mo amigo em J. C.
Sac. João Bosco.

© Direzione Generale Opere Don Bosco, via della Pisana, 1111 - 00163 Roma, Italia

Fonte:
http://www.sdb.org/PR/Documenti/2004/_5_10_6_4_2_.htm
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Data da carta: 10 de maio de 1884.
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No Brasil:
"A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos", Editora Salesiana, 2004, São Paulo, pág. 14 - 22. www.editorasalesiana.com.br

03 setembro 2005

"Sempre trabalhei com amor" - texto de Dom Bosco


A seguir, texto escrito por São João Bosco, sobre a educação. Em uma época (século XIX) dominada pela exclusão e por castigos físicos, Dom Bosco fala em educação com amor e respeito.


Após o texto, breve biografia de Dom Bosco.


SEMPRE TRABALHEI COM AMOR


Antes de mais nada, se queremos ser amigos do verdadeiro bem dos nossos alunos e levá-los ao cumprimento de seus deveres, é indispensável jamais vos esquecerdes de que representais os pais desta querida juventude. Ela sempre foi o terno objeto dos meus trabalhos, dos meus estudos e do meu ministério sacerdotal; não apenas meu, mas da cara congregação salesiana.

Quantas vezes, meus filhinhos, no decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que persuadi-la. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando os com firmeza e suavidade.

Tomai cuidado para que ninguém vos julgue dominados por um ímpeto de violenta indignação. É muito difícil, quando se castiga, conservar aquela calma tão necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou descarregar o próprio mal humor.

Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo poder. Ponhamo-nos a seu seviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos.

Assim procedia Jesus com seus apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais que em alguns causava espanto, em outros escândalo, mas em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos dele a ser mansos e humildes de coração.

Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda cólera quando devemos corrigir-lhes as faltas ou, pelo menos, a moderemos de tal modo que pareça totalmente dominada.

Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; então sereis verdadeiros pais se conseguirem uma verdadeira correção.

Em determinados momentos muito graves, vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante ele, do que uma tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não e não tem proveito algum para quem as merece.

São João Bosco – Dom Bosco (1815-1888), citado em: "Liturgia das Horas-vol III", págs.1225-1226, Ed.Vozes/Paulinas/Paulus/Ave-Maria, 1996.

Leia também:
"A Pedagogia de Dom Bosco em seus escritos" e "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales", ambos da Editora Salesiana (www.editorasalesiana.com.br), para aprofundar-se no pesamento e ação de Sâo João Bosco.

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São João Bosco nasceu perto de Castelnuovo, na diocese de Turim, em 1815.Teve uma infância sofrida. Ordenado sacerdote, consagrou todas as suas energias à educação da juventude, para formá-la na prática da vida cristã e no exercício de uma profissão. Com essa finalidade, fundou as Congregações: Sociedade São Francisco Sales (Salesianos) e Sociedade Filhas de Maria Auxiliadora. Fundou as escolas e a editora Salesianas, escreveu diversos opúsculos para proteger a religião católica. Morreu no dia 31 de janeiro de 1888, sendo canonizado por Pio XI em 1934. Sua pedagogia era baseada na alegria e no amor e foi o autor do método preventivo, numa época onde prevalecia as punições e castigos físicos aos alunos. Preocupou-se coma educação e profissionalização,sobretudo dos jovens mais pobres. Dai ser proclamado Padroeiro da Juventude.

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02 setembro 2005

Iniciando a conversa...

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