14 novembro 2005

Atualidade do Educador Dom Bosco

DOM BOSCO: UM SANTO EDUCADOR

Índice de textos de Dom Bosco contidos neste Blog:
– "Sempre trabalhei com Amor"
O Sistema Preventivo na Educação dos Jovens

Carta de Roma
Início do Oratório Festivo
Caramanchão de Rosas
O Sonho dos 9 anos

Veja também:
Repensando a Educação (Síntese do pensamento de Dom Bosco)



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ATUALIDADE DO EDUCADOR DOM BOSCO

Muitos dos leitores dete blog podem questionar o porquê de tanto insistir em Dom Bosco enquanto educador, se ele viveu e atuou em uma época diferente da nossa (século XIX) e em um país diferente do nosso (norte da atual Itália). Também podem questionar o fator dele ser padre e, hoje, o ensino ser laico.

Pois bem. Começando pelo último questionamento, o ser ou não padre (ou religioso de qualquer instituição) não melhora ou piora a qualidade de ninguém. Prefiro referir-me a ótimos e péssimos praticantes de alguma religião. E isso independe de credo religioso ou descrença religiosa; o que faz alguém ser melhor ou pior não é o rótulo, mas a coerência com uma escala de valores que carrega consigo (ou deveria carregar). E isto vale para todos os tempos, inclusive o de Dom Bosco e o nosso. Se no tempo dele a educação estava atrelada a uma religião (Católica) e se isto tinha convenientes e inconvenientes, a educação laica também o tem, uma vez que ela está atrelada a alguma instituição ou segmento social (só que não quer assumir ou dizer sobre esse ou esses segmentos).

Quanto aos argumentos de tempo e espaço: tanto no século XIX como em pleno séc. XXI, bem como no norte da atual Itália daquele tempo e no Brasil de hoje , há:
• Jovens abandonados pelas diversas instituições sociais;
• Jovens saidos de prisões, sem nenhuma perspectiva de inclusão social;
• Jovens que são explorados em seu trabalho (quando tem) ou explorados por terceiros nos semáforos ou mesmo precisando "vender o seu corpo" para sobreviver (prostituição);
• Jovens mergulhados na alienação, quer por meio de drogas (lícitas ou ilícitas), por meio de uma imprensa que desiforma e semeia a "cultura da morte", ou mesmo por uma instituição escolar que, apesar dos esforços dos educadores, presta-se apenas para dar alguns rudimentos de leitura para deixar o jovem sempre dependente de algum político assistencialista que, assim, se perpetua no poder.

Isto existia na Europa do sec. XIX e existe no Brasil do séc. XXI.

Não podemos esquecer que Dom Bosco atraía para si os jovens desempregados ou empregados, que vinham da zona rural em busca de oportunidade em Turim; visitava-os em seus empregos; visitava-os nas prisões e os acolhia quando de lá saiam; atraía os jovens ao Oratório Festivo que funcionava integralmente (ao contrário dos outros Oratórios da época, que funcionavam somente por algumas horas) e os jovens "sem paróquia" (enquanto os outros Oratórios permitiam a permanência somente de jovens de sua paróquia). Não só isso, Dom Bosco usava uma linguagem que eles compreendiam (usava, inclusive, o dialeto das vilas de onde os jovens vinham), brincava com eles e nunca dava castigos (tão comuns na educação e mentalidade da época).

E os nossos jovens hoje: não precisam sentir-se acolhidos e compreendidos, como os daquele tempo?

Precisamos, mais do que nunca, conhecer o pensamento e a prática desse grande Educador, o Padre João Bosco. Ele não ficou trancado em seu gabinete, sonhando e escrevendo bonito como muitos teóricos que conhecemos. Ele saiu em campo, "arregaçou as mangas" e trabalhou. Dom Bosco não esperava as coisas acontecerem, para depois "correr atrás do prejuízo"; prevenia situações complicadas trabalhando pelos jovens (veja o Sistema Preventivo de Educação: fé-razão-amor). " Se existem jovens maus, é que ninguém cuida deles", falava.

E nós, o que fazemos? E nossa sociedade? E nossos governantes? O que Dom Bosco diria, hoje, de nós, de nossa sociedade e de nossos governantes?

Por isso e tudo o mais Dom Bosco está atualíssimo em pleno século XXI.

Por isso, convido os leitores a lerem os artigos que aqui coloquei, muitos de autoria do próprio Dom Bosco.

Boa leitura a todos!

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Neste blog já coloquei alguns textos de autoria de Dom Bosco; vale conferir:
– "Sempre trabalhei com Amor"
O Sistema Preventivo na Educação dos Jovens

Carta de Roma
Esses textos, bem como a biografia de Dom Bosco, podem ser encontrados
facilmente em livros, editados no Brasil pelas
Escolas Profissionais Salesianas. Vale à pena ler!

Mais textos:
Início do Oratório Festivo
Caramanchão de Rosas

Fontes (para pesquisar mais ou adquirir publicações)
Editora Salesiana
Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora
Inspetoria Salesiana
Salesianos no Mundo (site internacional, com opção de língua)
Sites e livros sobre Dom Bosco, clique aqui.
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Início do Oratório Festivo


FESTA DA IMACULADA CONCEIÇÃO E INÍCIO DO ORATÓRIO FESTIVO

"Mal entrei no Colégio de São Francisco, vi-me logo cercado por um bando de meninos que me acompanhavam em ruas e praças, até mesmo na sacristia da igreja do instituto. Não podia, entretanto, cuidar deles diretamente por falta de local. Um feliz encontro proporcionou-me a oportunidade de tentar a concretização do projeto em favor dos meninos que erravam pelas ruas da cidade, sobretudo os que deixavam as prisões.

No dia solene da Imaculada Conceição de Maria, 8 de dezembro de 1841, estava à hora marcada, vestindo-me com os sagrados paramentos para celebrar a santa Missa. O sacristão José Comotti, vendo um rapazinho a um canto, convidou-o a ajudar-me na Missa.

– Não sei – respondeu ele, todo mortificado.

– Vem – replicou o outro –, tens de ajudar.

– Não sei – retorquiu o rapaz – nunca ajudei.

– És um animal – disse o sacristão enfurecido. – Se não sabes ajudar a Missa, que vens fazer na sacristia?

E, assim dizendo, tomou do espanador e começou a desferir golpes nas costas e na cabeça do pobrezinho.

Enquanto este fugia, gritei em voz alta:

– Que está fazendo? Por que bater nele desse jeito? Que é que ele fez?

– Se não sabe ajudar a missa, por que vem à sacristia?

– Mas você agiu mal.

– E que lhe importa?

– Importa muito, é meu amigo; chame-o imediatamente, preciso falar com ele.

– Oi, rapaz! – pôs-se a chamar; e correndo atrás dele e garantindo-lhe melhor tratamento trouxe-o para junto de mim.

O rapaz aproximou-se a tremer e a chorar pelas pancadas recebidas.

– Já ouviste Missa? – disse-lhe com a maior amabilidade que pude.

– Não – respondeu.

– Vem então ouvi-la. Depois gostaria de falar de um negócio que vai-te agradar.

Prometeu. Era meu desejo aliviar o sofrimento do pobrezinho e não deixá-lo com a má impressão que lhe causara o sacristão.

Celebrada a santa Missa e terminada a ação de graças, levei o rapaz ao coro. Com um sorriso no rosto e garantindo-lhe que já não devia recear novas pancadas, comecei a interrogá-lo assim:

– Meu bom amigo, como te chamas?

– Bartolomeu Garelli.

– De onde és?

– De Asti.

– Tens pai?

– Não, meu pai morreu.

– E tua mãe?

– Morreu também.

– Quantos anos tens?

– Dezesseis.

– Sabes ler e escrever?

– Não sei nada.

– Sabes cantar?

– Não.

– Sabes assobiar?

E então o menino sorriu.

– Já fizeste a Primeira Comunhão?

– Ainda não.

– Já te confessaste?

– Sim, quando era pequeno.

– E agora, vais ao catecismo?

– Não tenho coragem.

– Por quê?

– Porque meus companheiros menores sabem o catecismo, e eu, tão grande, não sei nada. Por isso fico com vergonha de ir a essas aulas.

– Se te desse catecismo à parte virias?

– Então sim.

– Gostarias que fosse aqui mesmo?

– Com muito gosto, contanto que não me batam.

– Fica sossegado, que ninguém te maltratarás. Pelo contrário, serás meu amigo. Terás de haver-te só comigo e mais ninguém. Quando queres começar?

– Quando o senhor quiser.

– Essa tarde serve?

– Sim.

– E se fosse agora mesmo?

– Sim, agora mesmo. Que bom!

Levantei-me e fiz o sinal-da-cruz para começar; meu aluno não o fez porque não sabia. Naquela primeira aula procurei ensinar-lhe a fazer o sinal-da-cruz e a conhecer Deus Criador e o fim por que nos criou. Embora tivesse pouca memória, conseguiu, com assiduidade e atenção, aprender em poucos domingos as coisas necessárias para fazer uma boa confissão e, pouco tempo depois, a sagrada Comunhão.

A esse primeiro aluno, juntaram-se outros mais. Durante aquele inverno limitei-me a alguns adultos que tinha necessidade de catequese especial, sobretudo aos que saíam da cadeia. Pude então constatar que os rapazes que saem de lugares de castigo, caso encontrem mão bondosa que deles cuide, os assista nos domingos, procure arranjar-lhes emprego com bons patrões visitá-los de quando em quando ao longo da semana, tais rapazes dão-se a uma vida honrada, esquecem o passado, tornam-se bons cristãos e honestos cidadãos. Essa é a origem do nosso Oratório, que, abençoado por Deus, teve um desenvolvimento que então eu não podia imaginar."

BOSCO, São João (1815-1888). "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales" 1815-1855. Tradução de Fausto Santa Catarina. 3ª edição. Editora Salesiana, São Paulo, 2005, páginas 122 - 125.

O Caramanchão de Rosas - Texto de D. Bosco


“O CARAMANCHÃO E AS ROSAS”

São João Bosco

Certo dia, em 1847, após meditar muito sobre o modo de fazer o bem à juventude, apareceu-me a Rainha do Céu que me levou a um jardim encantador. Nele havia um longo pórtico, com plantas trepadeiras carregadas de folhas e flores. O pórtico dava para um caramanchão encantador, flanqueado e coberto de maravilhosos rosais em plena florescência. Também o terreno estava todo coberto de rosas. Nossa Senhora me disse:

– Tire os sapatos e avance por este caramanchão. É o caminho que deve fazer.

Gostei de tirar os sapatos: teria sentido muito machucar aquelas rosas. Comecei a andar. Mas logo percebi que aquelas rosas escondiam espinhos muito agudos. E tive que parar.

– Aqui precisa usar sapatos – disse eu à guia.

– Sem dúvida. E dos bons.

Calcei os sapatos e retornei o caminho com certo número de companheiros que haviam aparecido naquele momento e me pediram para caminhar comigo.

Pendiam do alto muitos ramos como festões. Rosas! Só se viam rosas: em cima, dos lados, no chão, a meus pés. Minhas pernas, porém, enredando-se nos ramos estendidos por terra, acabavam feridas. Espinhava-me ao afastar os ramos transversais. Sangrava nas mãos, por todo o corpo. Todas as rosas escondiam muitíssimos espinhos.

Todos os que me viam caminhar diziam: “Dom Bosco só caminha sobre rosas! Tudo lhe vai bem!”. Não viam que os espinhos me rasgavam os membros.

Muitos clérigos, padres e leigos por mim convidados haviam-se posto a seguir-me, alegres, atraídos pela beleza daquelas flores. Mas, ao perceberem que deviam caminhar sobre espinhos, começaram a gritar: “Fomos enganados!”. Não poucos retrocederam. Fiquei praticamente só. E comecei a chorar. “Será possível – dizia eu – que tenha de percorrer tos este caminho só?”.

Mas fui logo consolado: vi avançar para mim um grupo de padres, clérigos, leigos, os quais me disseram: “Somos todos seus e prontos para segui-lo”. Precedendo-os, reiniciei o caminho. Só alguns desanimaram e pararam. Grande parte foi comigo até o fim.

Percorrido todo o caramanchão, vi-me num belíssimo jardim. Os meus poucos seguidores estavam macilentos, desgrenhados, ensangüentados. Levantou-se, então, uma brisa suave. A seu sopro, se curaram. Soprou outro vento e, como por encanto, me vi circundado de um número imenso de jovens e de clérigos, de coadjutores leigos e também de padres, que se puseram a trabalhar comigo guiando aquela juventude. Reconheci alguns, mas muitos outros os não conhecia.

Então a Santa Virgem, que fora a minha guia, perguntou-me:

– Sabe o que significa o que você está vendo e viu antes?

– Não.

– Saiba que o caminho por entre as rosas e os espinhos significa o cuidado que deverá tomar com a juventude. Deverá andar com o calçado da mortificação. Os espinhos significam os obstáculos, os padecimentos, os desgostos que lhe caberão. Mas não desanimem. Com a caridade e com a mortificação, irão superar tudo e chegar às rosas sem espinhos.

Logo que a Mãe de Deus acabou de falar, acordei. Estava em meu quarto.

Contei-lhes isto para que cada um de nós tenha a certeza de que é Nossa Senhora que quer a nossa Congregação. E para que nos animemos sempre a trabalhar para a maior glória de Deus.


BOSCO, João IN: BOSCO, Terésio. João Bosco: uma nova biografia. 6. ed. São Paulo: Editora Salesiana, 2002. p. 299-301.