27 dezembro 2005

Importante

Este blog tem por objetivo divulgar o pensamento e a prática do Educador Padre João Bosco.

Levando em conta e respeitando o contexto de sua época (norte da atual Itália do séc. XIX) e o nosso contexto (Brasil, séc. XXI), muitas lições práticas podemos obter desse grande Educador, que não esperava as coisas acontecerem para depois "correr atrás do prejuizo", nem ficava trancado em gabinetes escrevendo teorias bonitas.

Dom Bosco foi um Educador muito prático.

É fundamental que a leitura deste blog seja iniciada pela introdução (que contém a contextualização e índice de textos), clicando aqui. Confirme também os textos arquivados, clicando em cada link disponível no índice à esquerda deste blog.

Boa leitura a todos!

João César.

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Passeios - ação de Dom Bosco



Passeios

Todos os anos, pela festa de Nossa Senhora do Rosário (sete de outubro), Dom Bosco leva aos Becchi seus melhores alunos: uns vinte, nos primeiros anos. Depois, o número cresceu: de 1858 em diante, chegava a uma centena.

“Nos primeiros dias de outubro – escreve o padre Lemoyne –, partia do oratório a turma dos cantores, dos músicos e de outros alunos. Cada qual levava num pequeno embrulho a roupa necessária para as férias, pão queijo e frutas.”

Hospedava-os o irmão José (irmão de Dom Bosco, que continuou na propriedade da família, no campo), sempre cordial, sempre disposto a fechar os olhos quando os rapazes invadiam a vinha para lhe diminuir o trabalho da vindima...

No primeiro domingo de outubro celebrava-se a festa. No dia seguinte, começavam os passeios, que se prolongavam por dez, vinte e mais dias.

Até 1858, o quartel-general ficava nos Becchi de onde saíam de manhã para uma aldeia não muito distante, votando à noite.

A partir de 1859, os passeios se transformaram em verdadeiros “itinerários” através das colinas de Monferrato. Dom Bosco preparava o roteiro com antecedência: párocos e benfeitores estavam sempre prontos para acolher a turba faminta e cansada. A viagem se desenrolava pelas estradas do campo, entre colinas e vinhedos. Caminhavam em grupos, cantando, rufando tambores, tangendo burricos que portavam no lombo os cenários e os bastidores para as representações teatrais. Atrás de todos seguia Dom Bosco, rodeado sempre por um bom grupo de jovens que não se cansavam de ouvi-lo contar a história das aldeias por onde passavam.

Chegada à meta, a turba se punha em ordem. E, com a banda de música à frente, entravam solenemente no povoado.

“Não posso esquecer aquelas viagens aventurosas – escrevia o Padre Anfossi. – Éramos uma centena de rapazes e já então podíamos ver a grande fama de santidade de que gozava. Sua chegada naqueles lugares era um triunfo. Os párocos dos arredores acorriam à sua passagem e, geralmente, as autoridades civis também.”

“Os moradores se achegavam às janelas ou saíam às portas das casas; os camponeses deixavam os trabalhos para verem o Santo.; as mães se aproximavam apresentando os filhinhos e, genuflexas, mesmo por terra, pediam lhe a benção. Como o nosso costume era ir diretamente à igreja paroquial para adorar Jesus Sacramentado, em breve o templo ficava repleto de fiéis, aos quais Dom Bosco fazia uma alocução. Cantava-se, depois, o Tão Sublime Sacramento e dava-se a benção do Santíssimo”.

A seguir comia-se uma matula bem reforçada, à moda dos colonos: o povo trazia generosamente para aqueles rapazes cestas de frutas, enormes pães de fôrma caseiros, queijo e jarras de vinho.

Dormia-se debaixo de telheiros ou em salões, estirados sobre sacos de folhas ou na palha.

Aqueles passeios foram aventuras inesquecíveis, para os meninos, e, para Dom Bosco, a “carta de apresentação” aos povoados do Monferrato, dos quais conseguiu levar para o oratório esplêndidas vocações salesianas.

BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma nova biografia.
São Paulo: Editora Salesiana. 6.ed. 2002. p364-366.
www.editorasalesiana.com.br

Um dia de liberdade - ação de Dom Bosco


Um dia de liberdade

Em 1845, na estrada para Stupinigi, fora aberta uma nova prisão em Turim: a Generala. Era um reformatório de rapazes, com capacidade para trezentos. Dom Bosco freqüentava-a regularmente. Procurava fazer-se amigo daqueles pobres rapazes, condenado (quase sempre) por roubo ou vadiagem.

Dividiam-se em três categorias: “vigiados especiais” que, à noite, eram trancados em celas; “vigiados simples”, levados adiante apenas com os meios normais de uma prisão; “periclitantes”, que ali se achavam só porque alguém, já cansado deles, os confiara à polícia. Passavam o tempo em trabalhos agrícolas ou em oficinas internas.

Na Quaresma[i] de 1855, Dom Bosco deu a todos um caprichado curso de catecismo, seguido de três dias de Exercícios Espirituais (nada menos), concluídos com uma confissão deveras geral.

Dom Bosco ficou tão impressionado pela boa vontade geral que lhes prometeu “alguma coisa excepcional”. Foi ao diretor e propôs-lhe organizar para os rapazes (abatidos pela reclusão) um belo passeio a Stupinigi.

– Está mesmo falando sério, reverendo? – exclamo o homenzinho espantado.

– Com a maior seriedade do mundo.

– E não sabe que eu sou responsável por aqueles que fugirem?

– Ninguém fugirá. Dou-lhes a minha palavra.

– Ouça. Não vamos gastar saliva à-toa. Se quer essa licença, dirija-se ao Ministro.

Dom Bosco foi ter com Rattazzi e lhe expôs com tranqüilidade o seu projeto.

– Pois não – lhe disse o Ministro. – Um passeio fará muito bem a esses jovens detentos. Darei as ordens necessárias para que, ao longo do caminho, se distribuam guarda à paisana em número suficiente.

– Isso não – interveio decidido Dom Bosco. – É a única condição que eu ponho: que nenhum guarda nos “proteja”. E vossa Excelência deve dar-me sua palavra de honra. O risco é meu: se alguém fugir, por-me-á na cadeia a mim.

Ambos riram. Depois Rattazzi ficou sério:

– Dom Bosco, entenda. Sem guardas, não trará de volta ninguém.

– E eu, ao contrário, lhe garanto que vou trazer de vota todos. Vamos apostar?

Rattazzi pensou um pouco.

– Está bem. Aceito. Confio no senhor. Mas confio também nos guardas: em caso de fuga, não levarão muito tempo para recapturar esses frangotes.

Dom Bosco voltou à Generala e anunciou o passeio. Uma explosão de alegria. Numa brecha de silêncio, Dom Bosco continuou:

– Dei minha palavra: todos se comportarão bem, e nada de fugas. O Ministro também deu a sua: nada de guardas, nem fardados, nem à paisana. Agora chegou a vez da palavra de vocês: basta que um fuja e minha honra se vai. Não deixarão mais pôr os pés aqui dentro. Posso confiar?

Cochicharam lá algum tempo entre si. Depois os maiores disseram:

– Damos a nossa palavra! Voltaremos todos! Nos portaremos bem!

O dia seguinte foi dia de sol tépido, primaveril.

E lá se foram para Stupinigi, pelos caminhos dos campos. Pulavam, corriam, gritavam. Dom Bosco seguia em meio à pequena tropa, brincando e contando estórias. À frente de todos, o burro. Com as provisões.

Em Stupinigi, Dom Bosco celebrou a santa Missa. Depois, houve almoço ao ar livre, seguido de animadas partidas à margem do rio Sangone. Visitaram o parque e o castelo real. Houve merenda e, ao pôr-do-sol, o retorno. O burro estava livre e Dom Bosco cansado. Os rapazes fizeram-no montar e, puxando as rédeas e cantando, chegaram. O diretor apressou-se em contá-los. Estavam todos.

Houve um adeus triste no portão do cárcere: Dom Bosco se despediu de um por um e voltou para casa com um aperto no coração: só pudera libertá-los por um dia.

O Ministro, ao contrário, ao saber de tudo, ficou exultante como de um triunfo.

– Por que é que o senhor consegue fazer essas coisas e nós não? – perguntou a Dom Bosco um dia.

– Porque o Estado manda e castiga. E é só isso o que pode fazer. Eu, ao contrário, quero bem a esses rapazes. E como sacerdote tenho uma força moral que Vossa Excelência não pode entender.


BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma nova biografia.
São Paulo: Editora Salesiana. 6.ed. 2002. p319-321.
www.editorasalesiana.com.br



[i] Período de quarenta dias anteriores à Páscoa, recordando os quarenta dias que Jesus ficou no deserto, lutando contra as tentações (S. Mateus 4, 1 – 11 e paralelos). Tempo de penitência e convite à mudança de vida, em preparação à Páscoa (Ressurreição, Vida Nova) que se aproxima.

15 dezembro 2005

Importante


Este blog tem por objetivo divulgar o pensamento e a prática do Educador Padre João Bosco.

Levando em conta e respeitando o contexto de sua época (norte da atual Itália do séc. XIX) e o nosso contexto (Brasil, séc. XXI), muitas lições práticas podemos obter desse grande Educador, que não esperava as coisas acontecerem para depois "correr atrás do prejuizo", nem ficava trancado em gabinetes escrevendo teorias bonitas.

Dom Bosco foi um Educador muito prático.

É fundamental que a leitura deste blog seja iniciada pela introdução (que contém a contextualização e índice de textos), clicando aqui.

Boa leitura a todos!

João César.

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O Sonho dos 9 Anos



A seguir, íntegra do sonho que São João Bosco teve por volta dos nove anos de idade, descrevendo seu futuro trabalho com os jovens.

Vale à pena ler a interpretação que o Padre Afonso de Castro fez desse mesmo sonho, no livro " Carisma para educar e conquistar", pág. 24 - 32.

O mesmo sonho, sem comentários e interpretações, é reproduzido integralmente em vários livros, dentre os quais: "A pedagogia de Dom Bosco em seus escritos" (pág. 5 - 7); "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales" e "Dom Bosco - uma nova biografia". Na internet, procure no site oficial do Salesianos: www.sdb.org

Vamos a descrição do sonho, nas palavras do próprio Dom Bosco.

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"Na idade de 9 anos tive um sonho, que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida. Pareceu-me estar perto de casa. Numa área bastante espaçosa onde uma multidão de meninos estava a brincar. Alguns riam, outros divertiam-se, não poucos blasfemavam. Ao ouvir as blasfêmias, lancei-me de pronto no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-los calar.

Neste momento apareceu um homem venerando, de aspecto varonil, nobremente vestido. Um manto branco cobria-lhe o corpo; seu rosto, porém, era tão luminoso que eu não conseguia fitá-lo. Chamou-me pelo nome e mandou que me pusesse à frente daqueles meninos, acrescentando estas palavras:

– Não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude.

Confuso e assustado, repliquei que eu era um menino pobre e ignorante, incapaz de lhes falar de religião. Senão quando aqueles meninos, parando de brigar, de gritar e blasfemar, juntaram-se ao redor do personagem que estava a falar.

Quase sem saber o que dizer, acrescentei:

- Quem sois vós que me ordenais coisas impossíveis?

– Justamente porque te parecem impossíveis, deves torná-las possíveis com a obediência e a aquisição da ciência.

- Onde, com que meios poderei adquirir a ciência?

- Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, e sem a qual toda sabedoria se converte em estultície.

- Mas quem sois vós que assim falais?

- Sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia.

- Minha mãe diz que sem sua licença não devo estar com gente que não conheço; dizei-me, pois, vosso nome.

– Pergunta-o à minha mãe


Nesse momento vi ao seu lado uma senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto todo resplandecente, como se cada uma de suas partes fosse fulgidíssima estrela. Percebendo-me cada vez mais confuso em minhas perguntas e respostas, acenou para que me aproximasse e, tomando-me com bondade pela mão, disse:

- Olha.

Vi então que todos os meninos haviam fugido, e em lugar deles estava uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos, e outros animais.

– Eis o teu campo, onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte, robusto; e o que agora vês a esses animais, deves fazê-los aos meus filhos.


Tornei então a olhar, e em vez de animais ferozes apareceram mansos cordeiros que, saltitando e balindo, corriam ao redor daquele homem e daquela senhora, como a fazer-lhes festa.

Neste ponto, sempre no sonho, desatei a chorar, e pedi que falassem de maneira que eu pudesse compreender, porque não sabia o que significava tudo aquilo. A senhora descansou a mão em minha cabeça dizendo:

– A seu tempo tudo compreenderás.

Após essas palavras, um ruído qualquer me acordou, e tudo desapareceu.

Permaneci atônito. Parecia que minhas mãos doíam devido aos socos que tinha dado, que minha face doía pelos socos recebidos. Aquele personagem, aquela senhora, as coisas ditas e ouvidas, me ocuparam de tal forma a mente que não consegui retomar o sono aquela noite."

P. João Bosco